sábado, 31 de março de 2012

Valkyrie: Alma Brilhante parte 8

Valkyrie

     "Tá bom", pensei, "se isso é um campo de treinamento, eu sou uma mitocôndria"
     A Arena era enorme. Feita de puro aço, e o chão estava em constante mudança. Em um minuto, ele trocou de um lago para uma cratera de um vulcão, e depois voltou a ser um lago.
     - Ah meu deus... - Shu disse - As gêmeas estão no controle.
     - Awa e Aka? - perguntou Jannie.
     - Exatamente.
     - Quem são Awa e Aka?
     - São as gêmeas, água e lava.
     - Ãn?
     - Os elementos delas.
     "Isso explica as mudanças repentinas" pensei.
     - AWA, AKA!
     Um turbilhão e um erupção ocorreram simultaneamente. Desses, saíram duas garotas, uma de vermelho e a outra de azul escuro. Elas estavam discutindo. Não prestei muita atenção nelas, mas sim nas armas. A de vermelho segurava duas facas e a de azul um tridente. Ambos nada amigáveis.
     - Parem de brigar, vocês duas.
     - O meu Ruuva é vinte vezes melhor do que o seu!
     - Não, o meu é melhor!
     - Desculpe - interrompi - Quem é a lava?
     - Eu - respondeu a de vermelho - Porque?
     - Porque concordo com você.
     - Viu - ela se virou para a irmã - O meu é melhor
     - Chega! - Shu explodiu - Voltem para a sala de controle.
     - Qual é o Ruuva? - A garota que seria Awa perguntou.
     - O incêndio.
     - Beleza - Disse Aka - Também adoro esse!
     - Ah, droga! - disse Awa - Vamos
     Daí elas desapareceram do mesmo jeito que apareceram. O chão e as paredes mudaram.      Me vi no meio de um incêndio. Shu e Janette ficaram em um canto. Shu me disse:
     - Essa é sua área, seu Ruuva. Você deve começar o treinamento aqui.
     - Qual é o seu Ruuva, Shu?
     - O olho de um furacão. Sente-se e se concentre.
    Assim que me sentei, me senti capaz de esmagar uma pedra com as mãos. Só não fiz isso porque a Jannie é a terra.
     - Ótimo. Agora levante seus braços.
     Fiz o que ele pediu. Imediatamente senti o calor me cercando. Quando me dei conta, estava gargalhando. Girava os braços e fazia acrobacias feito uma louca. Mas não me sentia no controle. Eu sentia o que estava fazendo, mas não comandava meu corpo. Até que ouvi a voz de Shu:
     - Jannie, faça ela parar!
     - Valkye, pare!
     A sensação me abandonou. Meu Ruuva desapareceu. Vi Jannie ao longe, me olhando com cara de pavor. Vi Gimani (como ela apareceu lá eu nãe eo sei), e vi Shu.
     Ele estava caído, com uma queimadura grave no lado direito do braço, onde ele estaria protegido com a sua roupa. Com uma das minhas conversas com Gimani, ela me disse que as roupas de fadas e elfos são como armaduras mágicas, nada atravessa por elas.Mas as Shu estava desativado, sem as asas e a roupa. Ele estava com uma túnica branca, e as túnicas não tem essa propriedade.
     - Valkye... cof,cof... eu vou fica... cof... ficar bem, não se... cof... preocupe.
     - Os poderes dele sobre o ar aumentam sua capacidade de evasão - disse Gimani - Você o teria matado se ele não tivesse desviado. Jannie também foi atingida, mas os poderes sobre aterra impedem queimaduras por fogo.
     Ela realmente parecia bem. Só estava chocada. Eu não fiz aquilo de propósito, mas eles não sabiam disso. Fiquei com uma centena de toneladas pesando na cabeça. Uma garota entrou na Arena berrando.
     - E aí, o que eu... Ah meu santo Ruuva, Shu!
     Ela coreu para nossa direção. Ela tinha belos cabelos castanhos e olhos verdes. Estava vestida de verde e rosa, completamente ativada. Sua arma era um machado. Ela se apresentou como Lucca, a fada das plantas. Perguntou o que aconteceu e lhe contei a história. Todos pareceram acreditar, o que me surpreendeu.
     - É comum - Ela disse - Quando entra pela primeira vez no seu Ruuva, a fada ou o elfo perde o controle sobre seus poderes, e ataca quem estiver por perto.
     - Isso aconteceu comigo - Jannie disse - Kira e Shu ainda estão com hematomas de quando eu atirei uma pedra em cada um.
     - Era pequena?
     - Se você acha uma pedra do tamanho de uma casa pequena...
     - O.K., chega de blá blá blá. Me ajudem a levanta-lo. É uma queimadura de terceiro grau, e a força de impacto foi imensa. Acho que quebrou duas costelas. O treinamento terá que ser adiado. Vamos para o hospital.
     - De novo - disse sem muita empolgação.
     - É - Disse denovo com uma pontinha de humor na voz - De novo

quinta-feira, 29 de março de 2012

Valkyrie: Alma Brilhante parte 7

Shai

     Shai estava andando para casa. Triste, lembrava-se dos acontecimentos do dia. Kira diz para ele que Valkye é uma fada, e que ela iria levá-la embora. Inacreditávelmente, ele acreditou. Kira o abraça, um abraço de consolo, um carinho entre amigos. Mas naquele momento Valkye chega. Ela os vê abraçados e fica fula da vida. Grita com ele, e sai correndo. Quando ele se virou, Kira já não estava mais lá. Ele sabia que nunca mais veria Valkye.
     Ele se esforça na aula de artes, fazendo um enorme cartaz, como um carino final, mas ela nem se digna a vê-lo Nem berrando o poema (de 1024 versos, em quatro cartolinas, uma colada na outra) ele consegue reconquistá-la.
     Mais ou menos no meio do caminho para sua casa, ele vê uma criatura. Curvada, baixinha, feia e enrugada, olhou para ele e disse:
     - Eres Shai Nanshi?
     Sua voz era como unhas arranhando um quadro negro.
     - Sim - ele sentia que não deveria mentir para aquela criatura - Sou eu. Quem é você?
     - Sou Hi-Vak. Sou um goblin de busca e rastreamento. Nós ratreamos goblins comuns, Para recrutá-los, ou fadas, para matá-las. Você é um goblin comum. Terá que vir comigo.
     - Diga-me o que tem para me dizer.
     - Shai Nanshi, se compromete com Far'fna, sua terra, Kannu, seu príncipe, Bafza, sua rainha e Treszam seu rei.
     - Sim, me comprometo.
     Na hora ocorreu a mudança. Ele diminuiu vinte centímetros e emagreceu dez quilos, mas continuou ereto e com sua pele lisa.
     - Você é um goblin mago, pela sua pele e sua coluna. Vamos. Seu amigo, Bart François Dellagnore também virá.
    O goblin disse isso e saiu correndo. Shai nem hesitou. Seguiu-o para um portal, que o levaria a Far'Fna, Terra dos Goblins.

sábado, 10 de março de 2012

Valkyrie: Alma Brilhante parte 6


Olha, quando você chega em um lugar cujo chão é feito de nuvens, e recebe a notícia de que é uma fada, acho que todos fariam a mesma coisa que eu fiz. Desmaiei.
Acordei com outra roupa (uma simples túnica vermelha) e num lugar completamente diferente, como um quarto de hospital, mas mais mágico.  Quando eu bebia água, ela se enchia sozinha, as cores da parede (pelo que percebi) se adaptavam ao meu estado de espírito. Se eu estava confusa, a parede ficava multicolorida, cansada, azul bebê, branco e verde, e agitada, amarela, laranja e vermelha.
Mas o mais mágico era a enfermeira. Ela aparentava cerca de quarenta anos. Ela era linda, e provavelmente era uma fada, por ter asas e por criar uma aura mágica quando me tocava, mas eu não tinha certeza.
Um dia, tomei coragem e perguntei:
- Quando eu vou sair daqui?
- Na verdade, daqui a pouco. Kira e seus companheiros de equipe vão vir te buscar.
- Quem é você?
- Eu sou Gimani, a fada da medicina, conselheira e enfermeira das fadas e elfos do círculo.
- Quem são as fadas do círculo?
- É o grupo de fadas e elfos mais poderosos do reino de Skypea. Cada um protege uma das treze cidades do reino, e tem um tipo de poder elemental. Eu suponho que o seu seja o Fogo. Tente invocá-lo.
Tentei uma chama grande. Nada. Tentei uma faísca. Essa eu consegui. Tentei acender uma chama de vela. Não consegui.
- Mas como eu sou poderosa, se não sei ativar bem meus poderes?
- O poder não é adquirível, minha filha. Você já o tem. Só precisa aprender a controlá-lo. Olha, eles chegaram.
Kira estava com aquela roupa rosa purpurinada e suas asas, mas Jannie estava com uma túnica como a minha, só que a dela era marrom.
- Oi dorminhoca! – Disse Jannie, com menos aversão a altura.
- Quanto tempo eu dormi?
- Três dias – Disse Kira – Isso normalmente acontece com fadas do fogo. O quê ela conseguiu?
- Uma faísca.
- Para a primeira vez, é maravilhoso.
Depois que ela disse isso, um garoto entrou no meu quarto. Ele até que era bonitinho, mas não fazia o meu tipo. Ele era de médio para alto, era magrelo, tinha cabelos pretos e olhos maravilhosamente brancos. Foi a única coisa que eu gostei nele. Ele estava com uma camiseta de manga longa branca e uma bermuda leve da mesma cor. A combinação caiu bem nele, e as asas brancas deram o toque final.
- Falando de mim Kira?
- Para de se achar Shu. Afinal, você tem namorada.
- Deixa quieto. Eu gosto de me achar. Olá Valkyrie. Eu sou Shu, o elfo do Ar.
- Eu sou a fada da Terra Valkie, não faz sentido?
- Completamente.
- Olha só.
Ela pegou duas pedrinhas do bolso e começou a girar elas sem usar as mãos, só controlando elas. Morri de inveja, mas não deixei transparecer.
- Que legal!
- Hoje você começa seu treinamento – Disse Shu – Daqui a algumas horas você também conseguirá controlar o fogo, e daqui a uma semana, mais ou menos, conseguirá suas asas.
Confesso que me interessei mais pela última parte. Desde quando Kira nos disse que éramos fadas, eu quis ter um par de asas.
- Tome seu bilhete. – Disse Kira – Leia.
Peguei aquele treco dourado e li. Ele dizia o que eu já sabia, em forma de poema, e acho que aquele era especial para mim. Dizia “Eres brilhante como o amuleto que sustentas/ Nunca sofrerá nenhuma desavença / Não cairá aos pés de nada/ Pois, Valkyrie, você é uma fada.
- Agora vamos – disse Shu – Temos muito treinamento pela frente.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Valkyrie: Alma Brilhante parte 5


- Kira! – berrei – o que você tá fazendo aqui?
- Como você entrou?
- A porta tá aberta.
- Droga – Jannete saiu correndo
- O bilhete.
- O quê?
- O bilhete. Onde você o deixou?
- Tá na minha mochila.
- Toma seu amuleto. Ponha ele no pescoço. -  Ela reparou na Sandie – Eca! Seu cheiro é nojento!
- Sandie não tem nada de nojenta!
- Tem sim. Ela é uma druida. Ela cheira mal para nós quando estamos completamente formadas.
- Nós quem?
     Jannete chegou correndo e interrompeu Kira.
- Tá trancada.
- Ponha seu amuleto Jannete.
- O colar?
- Não, pendure o bilhete no pescoço. Claro que é o colar.
- Pra que você está nos pedindo isso?
- Só põe logo o colar e vamos sair daqui.
- Ir para onde?
- Skypea, vamos logo, eu ainda tenho que juntar a druida no teleporte com a gente.
- Do que você tá falando?
- Não dá tempo de explicar, eles estão chegando.
- Eles quem?
- Os goblins de Far’fna. Eles estão nos caçando.
- Ótimo. Com essa nossa experiência com um goblin, eu não estou a fim de ver um exército – disse Sandie.
- Como você sabe que é um exército?
- Ouça a marcha.
Kira pôs a cabeça para fora da janela.
- Droga, eles estão do outro lado da quadra. Apressem-se. Temos que abrir o portal agora.
- Ok.
Eu, Kira e Jannete unimos as mãos como se tivéssemos nascido para fazer aquilo. Sandie ficou no meio de nós três. Nossos amuletos brilharam e vi um último relance do quarto da Jannie antes de entrarmos numa espiral rosa, marrom e vermelha (a combinação não foi das melhores).
Por fim me vi nos portões de uma cidade. Meu primeiro instinto foi olhar para baixo. Quando fiz isso dei um berro. Jannie ficou completamente branca e perguntou.
- O-onde estamos?
- Em Skypea, o único lugar em que nós podemos viver em segurança.
- Nós quem?
- As fadas do círculo, é claro. Temos que ir. Como eu disse, não há tempo.

Apresentação do Blog

Esses quatro primeiros capítulos são só o início da série que estou desenvolvendo. Eu provavelmente vou escrever outras histórias,mas Valkyrie será sempre a principal.  Valkyrie ainda não sabe quantas aventuras está para viver. É uma história de Ficção, que instigará a curiosidade dos maiores fãs das fadas.

Valkyrie: Alma Brilhante parte 4


     Eu estava pensando nisso quando a Sandie me pegou
por um braço e a Jannie pelo outro. Elas estavam rindo sobre algo, então entrei na folia.
- Porque que cês tão rindo, hein?
- Você não viu?
- Não.
- Não acredito, ela não viu!
     Depois disso a Sandie começou a rir denovo.
- O Shai fez um cartaz pra você!
- O quê? – Eu disse desconfiada – O que ele escreveu?
- Sei lá, não deu pra ver.
- Então qual é a graça?
- A graça foi ele gritando para te chamar, a gente dizendo que você estava ouvido e ele dizendo o que tava escrito no cartaz, porque a letra tava muito pequena. – Sandie explicou.
- Isso umas quatro vezes. – Jannie disse – E ele ainda fez em forma de poema.
     Imaginei a cena mentalmente. Vi o Shai recitando as linhas de um cartaz com um poema ilegível e não me agüentei. Explodi em risadas. Nós ficamos rindo até entrar na casa da Jannie.
- Mas o quê... – Jannie disse.
     A sala estava completamente desarrumada. O sofá e o tapete estavam rasgados, a TV de tela plana (maravilhosa, quarenta e nove polegadas) estava destruída e o vaso chinês com flores-de-lótus estava despedaçado no chão. Pensei “Agora a coisa ficou séria”. A mãe da Jannie ama aquele vaso, e a culpa cairia sobre a Jannie.
     Não sei por que, mas eu me sentia culpada por aquilo. Não sei, parecia que aquilo tinha sido causado por eu estar ali. Mas logo abandonei a idéia e comecei a dar ordens.
- Jannie, vê se sumiu alguma coisa, Sandie, verifica os outros cômodos comigo.
     Jannie ficou remexendo a sala, e eu e Sandie subimos para o segundo andar. Todos os cômodos no caminho do quarto da Jannie estavam destruídos. Verificamos os que ficavam mais longe. Completamente organizados.
- Se estava procurando alguma coisa, achou ali no quarto
da Jannie, e se ainda está na casa, está ali.
- Oi meninas, não sumiu nada.
     Jannie tinha acabado de voltar.
- Beleza, só falta verificarmos o seu quarto.
- Quem entra primeiro?
- Eu vou.
     Abri a porta e me deparei com o quarto de Jannie, mais precisamente, o que tinha dentro dele.
- Ah, não... – Disse Sandie – Um goblin não...
Era uma coisinha feia e baixinha, com a cara toda enrugada. Era encurvada e tinha acabado de deixar algo na cama da Jannie. A criatura olhou para a gente e disse.
- Arrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrg!
     Neste momento, eu me choquei. Sandie fechou os olhos, bateu uma mão na outra e disse:
- Lautípse augá!
     E uma onda apareceu DO NADA e levou a criatura pela janela. Depois que nos acalmamos, eu e a Jannie despejamos a torrente.
- O que foi aquela onda?
- Não sei.
- Como você sabia a espécie daquele troço?
- Foi chute.
     Continuamos fazendo perguntas até ela explodir. Quando isso aconteceu ela berrou.
- Chega!
Paramos de falar instantaneamente.
- Eu não sei de nada do que aconteceu agora. Tudo isso, eu não sei de onde veio. Então parem de fazer perguntas, tá?           
Ela começou a chorar. Nós como boas amigas, fomos consola-la.
- Calma, Sandie, não foi nossa intenção.
- Não queríamos te irritar.
- Não, tudo bem, agora já estou melhor.
- Mas o que era aquilo?
     As duas continuaram se perguntando o que tinha acontecido e eu fiquei quieta, até que reparei um brilho marrom em cima da cama.
- Hã?
     Daí eu vi o brilho dourado.
- Jannie.
- O quê?
- Olha aqui. - ela chegou perto - Qual é a probabilidade de termos recebido colares quase idênticos no mesmo dia?
- Mágica - disse uma voz conhecida - A probabilidade é mágica.

Valkyrie: Alma Brilhante parte 3


     Não ocorreu nada de estranho até depois do recreio, então vou poupá-los dos números, mapas e da chateação em geral.
     O recreio acabou e eu (como de costume) não tinha chegado nem na metade do meu folheado (que estava delicioso, minha mãe pode ser patética, mas cozinha que é uma loucura. Você deve estar se perguntando como eu peguei o meu lanche. Isso é bem simples. Minha mãe tem uma padaria e eu só comprei ele lá).
     Como eu estava atrasada com o meu lanche, dei um pedaço (bem grande) para a Sandie, que estava junto comigo, já que tem o armário do lado do meu (o do outro lado é o da Jannie) e abri meu armário. Peguei os livros de inglês e francês, e não me segurei. Peguei também o bilhete. O amuleto eu deixei ali, mas o bilhete eu ia ler com a Jannie e com a Sandie naquele dia à noite. Sandie saiu correndo, virou e gritou (com a boca cheia de folheado).
- Nos vemos às três!
- Até lá! – berrei de volta.
     Virei-me para ir ao corredor das linguagens e explodi de raiva. Calma. Eu explico. A primeira coisa que vi foi Kira, olhando para mim. Ela me olhou com desdém e falou.
- Você não sabe o que aconteceu no corredor.
- Eu sei muito bem o que aconteceu. Eu vi vocês.
- Não, você não sabe. Leia o bilhete. Amanhã eu te conto o que realmente aconteceu lá.
     Daí aconteceu uma seqüência de coisas muito bizarras. Os olhos da Kira ficaram cor-de-rosa. Um amuleto apareceu em seu pescoço, uma pedra rosa em forma de coração. Ela cruzou os braços e eu juro que ela mudou de roupa (para uma roupa rosa com purpurina, completamente piriguete) e vi duas pontas prateadas saindo da manga da blusa dela (não tão piriguete). E depois, quando ela se virou, eu vi asas na mesma cor de seus olhos nas suas costas.
- Mas o quê...?
- Você não sabe nem 20% do que acontece no mundo real, pelo menos, não neste lugar. Leia o bilhete. Amanhã conversamos.

Valkyrie: Alma Brilhante parte 2


Cheguei à escola suada e ofegante. Meu padrasto desistiu de correr atrás de mim duas esquinas depois da nossa casa. Jurei para mim mesma que não voltaria para casa hoje. Iria para a casa da Jannete ou da Sandra. Provavelmente para a casa da Sandra, mesmo que a mãe dela fosse a nossa professora de aritimética, porque os pais da Jannie sempre ligam para a minha mãe para saber se ela estava sabendo que eu ficaria na casa deles. Eu não queria que a minha mãe soubesse onde eu estava.
     O primeiro que vi foi o Bart. Ele estava (como sempre)
em seu skate e veio na minha direção.
- Oi Valkye!
- Ué, porque a surpresa?
- Não é surpresa, é felicidade!
- Explique-se, aprendiz de lavadeira.
     Bart era mais fofoqueiro que três garotas juntas.
- Você não tá sabendo...?      
- O que foi, Maria Fifi?
- Há, há, há. Muito engraçado. Mas, enfim, a mãe da Sandie está doente, e vai vir a professora substituta!
- Qual é o problema da dona Janice?
- Não é a dona Janice, é a professora substituta, ela é muito gata!
     Ele deu uma ênfase especial no “u”. “Ah, é claro.” Eu pensei “Garotos, hmpf”. Então a minha ida à casa da Sandie havia melado. Então eu iria ser uma menina bem má.
- Sabe onde o Shai tá?
- A primeira aula dele é química.
- Tá, beleza. Tchau Bart.
- Tchau Valkye.
     Virei-me e saí correndo para o laboratório de química. Como Shai é um aluno modelo, ele sempre vai direto para a sala (dei muita sorte. Lindo de morrer, e ainda estudioso). Mas dessa vez, encontrei-o em frente ao seu armário, segurando a mão daquela cachorra (é claro) da Kira. Nem preciso dizer que surtei.
- Shai Nanshi, o que você está fazendo com essa vadia?
     Kira era uma vadiazinha uns dois anos mais nova que nós, cabelinhos claros e olhinhos azuis. A típica loirinha safada, e era ex-namorada do Shai. Nunca fui com a cara dela e de sua franja quilométrica (é sério, uma vez ela tava com a franja no umbigo).
- Valkye!
     Seu susto exagerado me dissera o que eu queria.
- Nunca mais olhe na minha cara, seu mulherengo!
     Mal sabia eu que seria a última vez que veria ele.
- Que você morra envenenado pelo veneno dessa víbora!
     Saí correndo sem destino, e fui parar (inexplicavelmente) na frente do meu armário. Parei alguns segundos para respirar e peguei meus materiais para Aritimética, Geografia e Física, minhas aulas antes do recreio. Conferi os horários de meus amigos (todos nós temos os horários de todos) e dei graças a Deus por não ter nenhuma aula com o Shai hoje. Eu tinha um de Aritimética com o Bart, outro com a Sandie. Física e Geografia sozinha. Recreio. Um de Francês e um de Inglês com a Jannete. O outro de inglês também era com o Bart.
- Senhorita Hijja, Senhor Klaus, Senhora Laffayette, Senhor Bundamol (ninguém sabe seu nome verdadeiro) e Mademoseille Gabrielle. Como eu pensei, cara, é hoje.
- Falando sozinha, mor?
- Jannie! Que susto!
- Susto sugere distração. É com o Shai?
     Quando ela disse isso, enfiei a minha cara dentro do armário. Quando fiz isso, dei de cara com um amuleto em formato de chama, com uma pedra que nunca tinha visto na vida. Como Jannie é expert em tudo que é da terra, mostrei a pedra para ela.
- Você sabe que pedra é essa?
- Parece um rubi.
- Ela é tão bonita!
- É coisa que o Shai daria para você.
     Segunda menção ao Shai, segunda vez que enterro a cabeça no armário, segunda vez que acho algo estranho.
     Era um papel dobrado. Era dourado, e brilhava para diabo. Não mostrei o papel para a Jannie, decidi abri-lo mais tarde. Deixei ele no armário, e coloquei o amuleto (a Jannie ainda o estava segurando). Quando eu olhei para a pedra, ela também estava brilhando. Não sei o que me assustou mais, a pedra brilhando ou o que a Jannie disse depois.
- Você vai fazer algo hoje à noite?
- Por enquanto, estou preocupada com como voltar para casa.
- Ué, por quê?
- Gritei com o Paul hoje.
- Meus pais estão fora da cidade, então dá pra você se esconder lá. Eu chamei a Sandie também.
- Tá pensando no quê eu to pensando?
     Todos sabem o que rolou agora. É muito óbvio o que nós duas iríamos gritar. Queríamos evitar, mas não conseguimos. Gritamos em uníssono.
- Noite das garotas!
     Corremos abraçadas até chegarmos ao corredor em que
cada uma teria que ir para uma direção. Demos um abraço
mais apertado e saímos correndo feito doidas para as salas.

Vakyrie: Alma Brilhante parte 1


Valkyrie: Alma Brilhante

“Valkyrie, o que significa isso?”
     Essa é uma frase que costumo ouvir bastante. Quando meu padrasto vê meu boletim, quando minha mãe descobre algumas fotos que tiro com minhas amigas (ou meu namorado)... Mas essa foi especial. Essa mudou minha vida para sempre.
     Tudo começou numa segunda-feira. Eu abri meus lindos olhos âmbar (adoro me gabar disso!) e pensei: “Cara, é hoje...”. Sabe por quê? A primeira coisa que vejo é uma aranha de uns dez centímetros bem na minha cara.
     Não tenho medo de aranhas. Na verdade, não tenho medo de bicho nenhum, mas a desgraçada me deu um susto. Dei um tapa nela, e, tadam, ali estava uma nova decoração de parede. Eba!!! (falsa animação)
     Levantei e chequei o meu quarto. Minha casa é bem grande e bonita, mas o meu quarto é o pior cômodo dela.
É no sótão, a madeira do teto está caindo aos pedaços, meu armário mal cabe de tão baixo que é o pé direito.   Tenho também minha escrivaninha, minha estante (lotada de livros de ficção) e meu colcama. Não estou ficando louca, é colcama mesmo, o negócio é tão baixo que o colchão fica a meio centímetro do chão (eu medi).
     Desci para tomar café. O meu padrasto (que tem cento e cinqüenta e dois de cintura) já estava lá, como de costume, lendo o jornal, com suas meias (fedidíssimas) na mesinha de café. Ele me viu e começou o falatório típico de segunda.
- Bom dia, filha ingrata.
- O que foi agora, Paul?
     Ele já acorda de mau humor, sempre.
- Ouvi você, o que houve, foi raivinha? Nós damos tudo para vocês, e vocês já acordam batendo na parede?
     O quê, ouvido biônico? Que cara idiota, sério, depois daquilo me deu vontade de puxar seus ralos cabelos pretos.
- Foi uma aranha, Paul.
- Aun, minha filhinha tem medinho de aranha.
     Depois dessa não agüentei. Explodi.
- Você sabe muito bem que não tenho medo de bicho nenhum! Foi só no susto! E outra coisa que você sabe bem
é que não sou sua filha.
     Nas últimas quatro palavras eu berrei. Depois disso subi para o meu quarto. Ouvi ele me seguindo. Cheguei e tranquei a porta.
- Você vai ver quando você sair daí Valkyrie, você vai ver!
     Virei-me. Encontrei a última pessoa que esperava encontrar no meu quarto fazendo a última coisa que eu esperava que fizesse.
     O meu roliço meio-irmão Kyle estava lendo um livro. Kyle tem onze anos, está na segunda série do fundamental (isso mesmo, ONZE anos. Bota burro, né?) e odeia ler. Então berrei.
- Kyle, o que está fazendo aqui?
- Valkye, que susto!
- O que você está fazendo aí?
     Fui para perto dele e peguei o livro. Era um que eu nunca tinha visto na vida. Chamava-se “Aritimética para mentes fracas”.
- Porque você está lendo aqui?
- Eu não queria que me descobrissem lendo isso.
- Por quê? A única coisa nova aqui é que você está estudando aritimética. Eu sempre soube da mente fraca.
- Sai daqui sua chata!
- Porque eu sairia do meu quarto? Sai você!
- Então tá! Tchau, de preferência para nunca mais.
- Peraí, do que você tá falando?
     Ele me mostrou a língua, pegou o livro, destrancou a porta e saiu correndo. Eu mais que depressa tranquei a porta novamente.
     Daí eu pensei “Como eu vou para a escola?”. Não me entenda mal. Não sou muito de estudar, mas tenho meus amigos. Tenho Sandra, que é ruiva dos olhos verdes e fera na cozinha, Bart, o loirinho maroto, nunca perde uma cesta e é lindo de se ver no skate, Jannete, minha best dos cabelos e olhos castanhos, adora plantar tudo o que vê pela frente e lê tanto quanto eu. E, é claro, meu namorado Shai. Um lindo indiano com cabelos negros e olhos claros, entre o azul e o verde.
     Babando pelo Shai, pensei que o método de fuga padrão seria ideal. Minha mãe entregou meus lençóis
ontem à tarde, (ela nunca faz minha cama, o que significa que ela está sempre desarrumada. Ela diz que eu tenho que arrumar, mas eu simplesmente não tenho paciência) o que me diz que dá para sair pela janela.
     Amarrei quatro lençóis um no outro. Teria que passar pela janela da cozinha, mas eu nem ligava. Até queria que eles me vissem. Amarrei o primeiro lençol no armário e joguei os outros. Saí pela janela.
     Quando eu cheguei ao chão, olhei para a janela da cozinha e fiquei ouvindo o que eles estavam falando.
-... ato Saint Antoine, é para onde ela vai.
- Tem certeza que é necessário, querido?
- Sim, querida, tenho.
     Depois de ele falar isso, ele se virou para a janela. Eu mais que depressa me abaixei, mas não estava em meu dia de sorte, como eu já disse. Ele colocou a cara para fora da janela. Olhei para o seu cavanhaque em forma de “v” e pensei, “Cara, porque ele não corta isso?”. Neste exato momento, o cavanhaque começou a pegar fogo e o Paul olhou para baixo.
- Mas o que... Valkyrie?
     Não pensei duas vezes. Corri.